26 de jul. de 2008

Acordou sem sono às três da manhã. Enquanto se esforçava por adormecer novamente, pensando no frio que estaria fora da cama, sentiu um amargo no fundo da boca. As intermináveis e eternas dúvidas voltavam de novo para a atormentar. Já era capaz de pressentir o exacto momento em que todo aquele turbilhão a assaltaria. Empenhou-se a pensar em outra coisa, lutou e fugiu como uma louca, correu e tentou despistar o que a perseguia até se deixar cair, exausta e sem forças. Então elas, esfomeadas e inquietas, acercaram-se e do seu desespero fizeram um festim. Ela sabia que o único modo de vender aquele flagelo seria no momento em que se enfrentasse a si mesma; quando aceitasse no mais fundo de si que o não entendia, mas amava na mesma. Resolveu, então, levantar-se dos escombros...
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Às cinco da manhã, ainda estava envolta num filme negro em que o inimigo eram os seus próprios sentimentos e a saudade. Toda aquela saudade demasiado grande para apenas um ser humano. Ela odiava. Odiava também, porque a fronteira que separa o amor do ódio é demasiado estreita e se confunde na escuridão do ciúme. Desejava dor porque amava e era desse amor que vivia todo o seu ódio. Na verdade, talvez aquilo que interpretava como ódio mais não fosse o reflexo da frustração nascida do silêncio imposto a um sentimento criado fora deles, noutro mundo, mas apenas para os dois, num silêncio oculto pela capa de mistérios indecifráveis.

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